segunda-feira, 18 de junho de 2012

Mudei

Eu tinha um blog muito cheio de coisas, muito pré-adolescente, cujo link não coloco aqui de jeito nenhum. Aí mudei pra esse daqui, com essa pegada Huxley no nome. Mas foi indo e indo e acabou do mesmo jeito: colorido e desorganizado demais. Somado a isso, o Blogger mudou a plataforma de postagem (interface, sei lá o nome) e ficou bem agoniante de mexer. Então resolvi levar todos os posts antigos e os eventuais novos para um outro endereço. Ei-lo.


Nos lemos lá.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

"Eu odeio esperar"

Tenho ouvido isso muito nos últimos anos, virou uma dessas modas sociais estranhas. Mas há um outro lado.

A espera de um bebê são 9 meses de gestação, tempo recheado de experiências. Os 15 minutos na sala do dentista são, na verdade, uma matéria de uma revista antiga que você não leu pois não viu na época e que nunca teria lido se não tivesse esperado esses 15 minutos. Os 10 minutos que demoram entre a ligação e a chegada do táxi? É um dente escovado, um acessório a mais na roupa, um laço bem dado no tênis. A lentidão do metrô é um capítulo a mais de um livro, uma música a mais no iPod.

Paciência é uma virtude que precisa ser adquirida o mais rápido possível.

sábado, 14 de abril de 2012

Pagando pra ver

Acabei de ler uma HQ chamada "Paying For It". É a história real de um cartunista que decide que não quer ter mais namoradas e começa a fazer sexo apenas com prostitutas.

Depois de terminar um namoro e presenciar o novo relacionamento cheio de brigas da ex, Chester Brown percebe claramente que a ideia de amor romântico é um porre, causa mais dor do que alegria e quer pular fora desse barco. Ele defende que o sucesso dos relacionamentos são momentâneos pois as pessoas mudam - não necessariamente na mesma direção e isso é normal ("Me sinto uma pessoa diferente da que era há 10 anos e uma muito diferente da que eu era há 20 anos", exemplifica).

E aí o que sobra? Só chateação. Estar em um relacionamento amoroso sério não te garante sexo na hora que você quer. E se a única parte boa da relação é o sexo e você consegue sexo fácil fora de uma relação, pra quê ter uma relação?

A mãe de um dos amigos do tal cartunista fala que ele não tem respeito próprio ao saber que ele saiu com prostitutas. Chester diz que ao contrário do que pensam, se sente muito bem na vida e consigo mesmo e ainda argumenta: "Olha só o nosso amigo R, que acabou de levar um fora da namorada. Ele está péssimo tem muito tempo, ele está sofrendo. E porque ele está sofrendo? Pois ele foi rejeitado, pois ele precisa de alguém que esteja apaixonado por ele. Sem essa voz externa dizendo 'Te amo', ele desmorona. É por isso que pessoas precisar de relacionamentos, pois são inseguras. Precisam de alguém do lado de fora dizendo que elas são amáveis. Ou bonitas. Ou legais. Um cara com respeito próprio é um cara que não precisa estar num relacionamento [pra ser segura de si]". Interessante, não?

Pouco depois, ele conta aos amigos que deu uma de suas HQs para uma das prostitutas que ele vê. "Ela sabe o que você faz? Você conversa com elas?", perguntam os colegas. "Conversar - conhecer um pouco da moça - é um adicional à experiência. A faz parecer menos fria e impessoal", responde. E seu amigo recomenda: "Aqui vai uma ideia: se você quer ter uma experiência sexual que não é fria e impessoal, arranje uma namorada". Hum, touché.

O livro levanta várias questões interessantes sobre a invenção do romantismo ("no passado, era comum desenvolver afeto pela pessoa com quem você tinha se casado, mas amor não era motivo para casar. As pessoas casavam por dinheiro, status, famílias, acordos etc") e, mais para o final, começa até um debate sobre a legalização da prostituição - e de um ponto de vista que nunca tinha prestado atenção e que me surpreendeu.

No final, a mensagem é que cada um sabe da própria vida, cada um deve ir atrás do que acha certo para si - mas sempre é bom dar umas paradinhas no caminho pra ver se você está indo pro lugar que você quer ou pro lugar que estão te falando pra ir.

"Paying For It" não tem edição em português ainda, mas tem uma linguagem fácil, não é preciso ter um inglês afiado não. E vale muito a leitura, é um tipo de reflexão bem ímpar e, convenhamos, diferente. Muito do que é produzido atualmente pela indústria cultural é pra reforçar essas ideias de amorzinho e mimimi.

Mas o buraco é mais embaixo, claro. A gente lê essas coisas, entende, aceita, dá razão - mas não funcionamenos bem assim. É exatamente como Woody Allen diz em "Annie Hall":

O cara vai ao psicólogo e diz: "Doutor, meu irmão está louco; ele acha que é uma galinha". E o médico diz: "Bom, e porque você não interna ele?", e o cara diz: "Até internaria, mas preciso dos ovos".

Acho que é assim que me sinto sobre relacionamentos. São totalmente irracionais e loucos e absurdos. Mas a gente continua insistindo neles pois a maioria de nós precisa dos ovos.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Envelhecer, o elefante branco da comunidade gay


Em janeiro, um bem-sucedido terapeuta gay de Manhattan chamado Bob Bergeron cometeu suicídio. Sim, esse moço bonito da foto. Ele tinha 49 anos e estava prestes a publicar o livro “The Right Side of Forty: The Complete Guide to Happiness for Gay Men at Midlife and Beyond”. É, um livro de auto-ajuda direcionado aos gays com mais de 40 anos.

Sua filosofia era uma tentativa de convencer a si mesmo ou apenas uma maneira de ganhar dinheiro? Não sei. Mas muitos grupos gays são exageradamente baseados em beleza física e novidades, então acho que de qualquer forma vale a reflexão. Afinal, ao mesmo tempo que não devemos antecipar nossa velhice, não seremos jovens para sempre.

Nada contra quem fica por aí brigando sobre qual seriado de TV é melhor, gastando horas do dia decorando coregrafias de clipes ou na academia, gastando tubos de dinheiro em roupas e produtos tecnológicos da moda, mas espero sinceramente que essas mesmas pessoas estejam também buscando algo a mais da vida. Que elas queiram se conhecer mais, se desenvolver mais, compartilhar mais. Que reflitam um pouquinho sobre a vida, a morte, a efemeridade da existência. Ao contrário do que parece, pensar sobre isso não quer dizer ser obscuro, deprimido ou pessimista. Sair do armário para si e para o mundo pode ser muito doloroso, mas não quer dizer que a partir daí é só festa não.

O desafio mesmo - e esse não é só para os gays, claro - é conseguir ser feliz consciente da velhice, da doença, da morte e da solidão. Viver negando essas coisas é pra lá de fácil, existem vários jeitos. Mas, se negar essas coisas é a única maneira de você conseguir ser alegre, há algo errado. Não fica uma coisa meio falsa e histérica? Não cansa? Pois é. Fazer as pazes com a própria existência é o único jeito de estar satisfeito.

Satisfeito, pois "feliz" já seria uma palavra grande demais.

sábado, 24 de março de 2012

Vivendo sua vida w/ 689 others


Numa conversa essa semana, descobri que uma amiga tirou nada menos que 4 mil fotos do Vaticano quando esteve lá. Quatro mil! Precisava? É pra decorar cada detalhe do lugar ou é pra voltar pro Brasil e mostrar cada detalhe pros que não foram. A experiência tem que ser validada pelos outros?

Acho que qualquer resposta merece atenção: se em uma viagem você para a cada segundo para uma foto, deixa de experimentar aquele lugar de verdade. E abastecer seu Facebook com todas as fotos mostra que você ou é muito narcisista ou que quer que sua vida online represente com fidelidade a sua vida real. E isso não precisa acontecer.

O caso das fotos no Vaticano parece exagerado (e é mesmo), mas todo mundo faz isso o dia todo: porque raios as pessoas compartilham nas redes sociais o restaurante onde estão, a comida que cozinham, quantos quilômetros correram? Porque existem tantos sites para você marcar os filmes e seriados que viu, os livros que leu, shows que foi, músicas que ouviu? Acho que um dos motivos é falta de assunto mesmo: a agonia de ver todo mundo “postando alguma coisa” e a pessoa sem nada pra dizer. Outro motivo, ao meu ver, é porque a experiência se perdeu. Para muitas pessoas hoje, fazer algo só por fazer e só para elas mesmas não é suficiente; elas precisam divulgar, todo mundo precisa saber o que ela gosta de fazer. Como se espalhar por aí que você está se divertindo garantisse que você está se divertindo mais...

Ao mesmo tempo que eu compreendo (divulgar que você viu e gostou de certo filme te coloca dentro de um grupo), acho isso bem triste. A espontaneidade está ficando igual - algo que é contra o próprio conceito de espontaneidade. E acompanhar a vida online de alguém ainda está bem longe de conhecê-la de verdade – mesmo que seja de alguém que tente muito colocar sua rotina inteira dentro da web.

Resultado: fica tudo no meio da caminho. Por exemplo: você vai no aniversário de um amigo, metade das pessoas você conhece, a outra metade nunca te deu um “oi”, mas já tem uma opinião sobre você (aliás, o que as pessoas mais têm nos dias de hoje é opinião formada sem conhecimento). O ponto de partida da relação já está todo bagunçado; não existem surpresas nos assuntos primários, que deviam despertar interesse, e não há interesse nos assuntos surpresas.

Outros exemplos: perceber um erro de português absurdo vindo de uma pessoa que fala o tempo inteiro dos milhões de livros que leu. Ou encontrar pessoalmente com alguém que twitta todos os dias que vai à academia e ver que a pessoa não emagreceu nada. O oversharing das redes coloca esse tipo de lupa julgadora nas pessoas – e o pior é que são elas que colocam essa lupa na própria cabeça.

Já falei disso em um texto anterior: à medida que a tecnologia se torna mais onipresente, nossa relação com ela se torna mais íntima, conferindo-lhe poder de influenciar decisões, humores e emoções. Mas é só se a gente deixar! Suas redes sociais não precisam ser um reflexo fiel da sua vida real o tempo todo, listando o que você faz ou onde está e com quem. Meu celular tem tecnologia pra entrar na internet e eu me conecto quando quero, sabe? Mas não sincronizo meu Twitter, meu Facebook nem meu e-mail com ele. Nenhuma janelinha vai pular dele enquanto eu estiver almoçando, no cinema ou dormindo. Eu escolhi que eu é que vou lá ver o que está acontecendo quando eu quiser – afinal, o celular está lá para me servir, não o contrário. Perceber isso faz muita diferença.

Um bom exercício em qualquer situação é aquele joguinho infantil dos “porquês”. Cheguei num restaurante com um amigo, mal tinha me sentado e ele pegou o celular dizendo “Já vou dar check-in!”. Eu perguntei porque, ele respondeu e perguntei mais umas vezes. No final das contas, ele não tinha motivo algum pra dar check-in ali. Não queria convidar ninguém ir pra lá também, não ia escrever uma crítica sobre o restaurante (esse é o propósito do Foursquare, não é?), nem queria se mostrar fodão (o lugar não era chique, nem caro, nem nada). Ele pareceu meio perdido, percebeu que fazia parte de um “rebanho socio-tecnológico” dos que fazem algo pois os outros também fazem, sem refletir sobre aquilo. O mesmo jogo serve pra ser feito antes de cada upload de foto, cada status novo. Que objetivo você quer alcançar tornando pública aquela informação pessoal sua?

Passou da hora de muita gente por aí amadurecer nesse sentido, saber separar as coisas. É uma campanha que pode parecer antiquada, mas poxa. Você está vivendo sua vida para você ou para os outros?


terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Os personagens urbanos que eu mais amo odiar


6 – O maluco do elevador
Só tem ele e você no elevador. Vocês dois descendo, indo pro térreo. Quando o elevador passa perto do quarto ou terceiro andar, ele sai de onde estiver e vai pra frente da porta. Mas, assim, frente mesmo; ele encosta a ponta do nariz na porta fechada! Mas o melhor é que depois que a porta abre ele não sai correndo, ele não estava com pressa alguma; ele quase comeu a porta do elevador pra sair rápido, mas você saiu depois e ultrapassou o cara em 2 passos. Oi?

5 – A amiga da empada
Perto do seu trabalho tem uma empada, uma padaria ou sei lá o quê. E lá é bom, então todo mundo vai todo dia. Super normal. Tão normal que quando tem uma pessoa a menos com a turma, a moça até pergunta cadê a tal pessoa. Super legal e educado. Mas começa a ficar meio estranho quando ela se intromete na sua conversa pra opinar sobre o caso que você contou pros seus amigos e quando ela começa a contar da vida dela e pedir sua opinião. Minha senhora, eu nunca vi a casa e não conheço seu ex-marido, como eu vou saber se o valor que ele vendeu o imóvel foi justo?

4 – A mãe entorpecida
A única coisa que me incomoda mais do que criança é mãe otária que acha que todo mundo têm que gostar do filho dela. Olha, quando uma criança vem na minha mesa, enfia a mão no meu prato e pega um pedaço do meu pão de queijo, eu espero que a mãe me peça desculpas pela falta de educação do muleque, xingue o menino e me ofereça outro salgado (e eu recusaria com um sorriso); certamente eu não espero que ela ignore o fato ou, pior, vire pro menino com voz de bebê e fale: “Que delícia esse seu pãozinho de queijo, heim”. Acorda! Seu filho só a pessoa mais importante do mundo pra você. Aceite o fato quando estiverem em público pelo menos. Tem coisa mais chata do que uma criança esguelando de chorar e a mãe do lado lendo um livro? Ele chora em casa o dia todo e você se acostumou, mas as pessoas ao redor não precisam (e nem devem) se acostumar. Tomem vergonha na cara; criança tosca pega mal pros pais também.

3 – Os playboys que gritam
Alguém me explica? Dá significado à sua vida colocar a cabeça pra fora da janela do carro e chamar um cara de viado? O que esse povo espera que vai acontecer no mundo depois disso? Aliás, o que achama que vai acontecer depois de buzinarem pra uma mulher gostosa na rua? Ela vai vir correndo pro carro? Ah, você acha que ela não sabia que ela era gostosa antes de você buzinar? Ou você acha que ela, mesmo não sabendo quem você é, tinha que saber sua opinião sobre a bunda dela? Parabéns. Freud tem notícias para vocês.

2 – As estátuas
Elas têm o resto do planeta mas param para fumar, conversar e apreciar a vista na única entrada do ambiente, no começo do corredor e no finalzinho da escada rolante.

1 – A tia do ônibus
Ela é a melhor/pior pois é a que tem mais variações. É a tia que, mesmo com o ônibus lotado, insiste em conversar (e alto) com a amiga que sentou no banco atrás do dela ou do outro lado do corredor! É a tia que não calcula bem o tamanho da mochila Company que carrega na barriga e sai empurrando todo mundo. Mas o melhor tipo de tia do ônibus é aquela ansiosa do asfalto, que não deixa ninguém entrar no ônibus antes dela e se garante com os braços abertos, como se tivesse na dança da cadeira em festa infantil. Aí, depois do corre corre todo e até de ter passado por cima dos velhinhos e deficientes que não conseguiram descer antes dela entrar, o que ela faz?? Para na roleta, abre a bolsa e começa a contar as moedinhas – deixando as outras 300 pessoas (com cartão e dinheiro já contado) esperando atrás. Amo!